sexta-feira, 19 de julho de 2013

Apresentações no FIG 2013

1 Breve ontologia de um matuto sertanejo

Sou matuto sou roceiro
Me criei nos cafundó
Sou sertanejo da gema
Lá das banda dos moco
Lá quando o Sol tá a pino
Castiga o coro sem dó

Campeei gado nas brenha
R a n q u e i   t o c o   fui carreiro
Morei nin  casa de taipa
A d i s p o i s fui ser   o l e r o
Fiz tijolo inté fiz teia
Pás galinha fiz   p u l e r o

Num fiz teia cu'ma aranha
Mas pá c u b r i r   os   c e l e r o
Donde guardava os provento
T r a b a i o   d'um ano   i n t e r o
T o m b é m   pá fazer tapera
Qui'abrigava us   c u m p a n h e r o

Seu m i n i n o se'eu li conto
O c e   d i f i c e    acredita
A vida de sertanejo
Até parece desdita
Mai juro que'é assim mermo
Quem vê de perto acredita

Nos tempo de   t r u v u a d a
As   g o t e r a   p r e t u b a v a
Pingava pá toda banda
Nos cantinho   n o i s   ficava
I n c u i d o   tá quá pinto
In riba dos moi de fava

Nos tempo de verão brabo
Nas catinga eu mim' fiava
Meu pai   c u n 'a   i s t r o v e n g a
Ar macambira cortava
F a c h e r o m a n d a c a r u
Era o qui a gente i n c o n t r a v a

Fazia grandes coivara
E os  i s p i n h o  queimava
Pá mode o gado   c u m e r
A p o i s   a fome era braba
Antes de 'o fogo apagar
No meio do fogareu
O rebanho i n b o c a v a
Os   b i c h i n   c u m i a   tanto
Qui as veis  i n t é  se babava


É   p u r i s s o   qui li conto
Qui é essa minha sina
Fui o avesso do avesso
O raio da   c i l i b r i n a
Correndo atras de gado
Me criei la nas campina

Cedo peguei no arado
C a r p i n a v a   tangi boi
Assim minha infância foi
Nas brenha lá do cerrado
Amansei cavalo brado
Correndo no   m e i   do gado

T o m b e m   a m a n c e i   jumento
Burro, carneiro pá mode
Cambitá tijolo e teia
Pois lá naquelas aldeia
Quando a coisa tava feia
Cambitava   i n t e   n i n   bode

Passava no   m e i   das guerra
Qui a   m u l e c a d a  fazia
De badoque e de peteca
Qui durava   i n t é   um dia
Pedra   c u m i a   no centro
Mermo assim eu num fugia

Escanchado n'um jumento
Qui nem mermo sela tinha
Me sentia importante
Pois mermo sendo tampinha
Num perdia pá ninguém
Lá naquelas freguesia

Pastorei carneiro e cabra
Ovelha vaca e peru
Quando o Sol tava queimando
Logo eu ia   m' i m   c o s t a n d o
C a r   mão cacimba cavando
Nas sombra   d u r   mulungu

Pá mode encontra água
A p o i s   a sede era braba
Lá naquela região
Da donde a gente morava
Era assim lá no sertão
Qui a vida   n o i s   levava

Minha infância assim foi
Labutei desde menino
E mesmo  sendo franzino
Topava qualquer parada
Pernoitava nas estrada
Acordava madrugada

Pensamento indo ao léu
Divagava sem limite
Sempre fui contra o alvitre
De quem machucava gente
Do sertão trago a semente
Na cachola   q u i n é m   véu

Macambira e as urtiga
Nas perna fazia estrago
Da casca do pau pereiro
Trago comigo o amargo
Nunca conheci moleza
Do bem bom passei de largo

O sertanejo é assim
Inventa sua destreza
Dá murro in ponta de faca
Pra ele n'um tem surpresa
Aprende cá Natureza
A n'um   g u e n t a r   desagravo

Pá num vê aquelas cena
Meu pai de lá se 'arrancou
Trazendo c'um ele n o i s
Conselhos do nosso avô
Pá mode a gente i s t u d a r
A p o i s   se a sorte ajudasse
Uns pudia ser doutor

I s c o l a   num tinha lá
Naquelas brenha esquecida
Meu pai juntou toda    t r e n h a
Vendeu pá buscar guarida
Vinhemo   então pá cidade
Pá recomeçar a vida

Eu já era m u l e c o t e
C'uns doze anos de 'idade
I s t r a n h e i    q u i n é m   a gota
A vida aqui na Cidade
Mermo assim  fui me ajeitando
Pegando capacidade

Mar né   q i   i s t u d e i   poco
Pois    p' r u   c e    já   t a l u d i n
Vi tanta   m u i r   f a c e r a
Qui min   g r a c e i   de verdade
P o q u i n   aprendi a ler
Essa 'é a pura verdade.

2 - POETIZAR

Poetizar É eternizar sentimento
Vivido ou não tal momento
Fruto da' imaginação
É inventar fantasias
Tornando mais belo os dias
Ofuscando a solidão

É viajar sem fronteiras
É navegar altos mares
É flutuar pelos ares
Sem sequer sair do chão
É numa estrela cadente
Ou na cauda de' um cometa
Trafegar na' imensidão

É ter desejos insanos
É vomitar desenganos
Usando apenas palavras
É sonhar frequentemente
Para alguns é ser demente
Por desconhecer as causas

É enganar-se a si mesmo
É ter no peito essa chama
Ardente qual fogo em brasa
É fazer do sentimento
Seu principal argumento
Do ser feliz sem ter causa

Ser poeta é ser arteiro
E é também ser sensível
Ser muita vez permissível
É criar o seu mundinho
É amar sem ser amado
Aprender viver sozinho.

3 - Quem disse tinha razão

Quem disse que poeta é louco

Teve razão de dizer

Pois buscam na emoção

Pretexto para escrever

No íntimo dos corações

Semeia sonho em palavras

Divagam no pensamento

Trafega através do tempo

Até o silvar do vento

Lhe serve de inspiração

Desconhece seus limites

E inda há quem acredite

Que ouve a voz da razão

Uns dizem que'é sonhador

Outros que é fingidor

Já eu penso diferente

É contador de histórias

E carpina na memória

Lenitivo à sua dor

Pois seja qual for o tema

Sempre insere alguma cena

De quem sofre por amor.

4- Mesquinho Mundo Malvado - Monólogo malacabado

Mundo malvado!

Maracutaias massificam-se margeando malditas malversações.

Mal-caráteres manipulam massas, mantendo mordomias.

Madrugadas, meninos maltratados/ maltrapilhos mendigam migalhas mastigáveis/ merendáveis - minimizam miserês macabros - moram marquises.

Mocinhas - meras meninas - molestam-se, mortificam-se moralmente (m a l a f o n a s meretrizes menosprezadas) melindram-se  merecidamente - merecem melindrarem-se.

Mulheres mergulham - machucadas, manobradas, mitigadas - mistificam-se: mas, moram malocas; mocambos.

Meios miseráveis, minguados - maldita mesmice milenar.

Malévolo, majestosamente mescla mentiras; mostrando mazelas, misérias, morticínios - maior maldade mundial!

Mesquinhas mentes maquiavélicas manipuladoras: menosprezam, maldizem, manobram, manipulam maliciosamente, mergulham mundos magníficos - momentaneamente - mediocridade moral!

Metrópoles, matutos magros - macrocéfalos - mastigam medias mornas.

Matungos malhados - m a r r e n t os - munindo machados, martelos - m u c h i l a s  muchas - margeiam matas maiores.

Mistificáveis, movem moinhos; moendo manjares mastigáveis  m e l h o r z i n h o s: macaxeira, mandioca, mingaus... - mestiços mastigam morcegos, macacos - monotonia.

Meia-noite, mesa; mariposas marcam moradias - momentos maravilha: motivação mutua - mas, mera mesmice.

Muitos migram macilentos - morarão modestamente - menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo, maioria morre mendigando.

Mídia mostra menores metralhados, militares mandões.

Milionários maiorais, montam mansões magnificas; mordomos, m e r c e d e s, motoristas - mordomias mil - mãos maiores.

Magnatas manobram milhões - mas maioria morre minguado: moradia meia-água - menos - m a u s o l e u s  marmorizados.

Mesquinho mundo malvado; merece melhorar - merecemos melhore mais.

Mesmo morresse marginalizado, mastigado, mostraria:

Muda, mundinho merda marginalizante!!!

5- Matéria prima

Fantasia sai da mente

De quem se diz sonhador

Será que o poeta mente

Ou externa a sua dor?

Por vezes a gente sente

N'uma frase n'uma rima

Chega a olvidar desditas

Mas dá a volta por cima

N'outras

Naufragamos sem ação

Pois é da tal solidão

Do verso a matéria prima.

6-  Sertão e a 'indústria' da seca

É triste ver essa gente
Que produz em abundância
Chorando feito criança
Vendo tudo perecer

Quando ao amanhecer
Mira o campo desolado
Ao constatar que' o gado
Não mais tem o que comer

Eleva os olhos pro Alto
Em prece implora clemencia
Pois é forte a sua crença
Que em breve vai chover

Enquanto a chuva não vem
Sobrevive de migalha
Pois a ajuda lhe falha
É grande a desilusão

Quando muito uma ração
Lhe vem do que produziu
Ainda' é assim no Brasil
Lá pras bandas do Sertão

Que "continua ao Deus dará"!

Enquanto isso políticos inescrupulosos se locupletam-se das verbas governamentais e fazem fortunas com a 'industria' da seca...

7- Sob o guante da indiferença

A noite é leve
Trovão enuncia
Então vem a chuva
Serve de acalanto

Para outrem
Que não tem um teto
Fica inquieto
Chora o seu pranto

E a tormenta
Lhe invade a alma
Desengano embala
Já não tem porvir

Seu existir
Já não tem sentido
Pois o seu gemido
Ninguém quer ouvir

E sem dono
Vara a madrugada
Acordado
Já não mais faz planos

Esperança
Que lhe traga alivio
Quiçá de' um abrigo
Ao amanhecer

Vem o Sol
Derretendo a neve
Devolvendo
Um pouco de esperança

Sob o guante
Da indiferença
Poucos pensam
Em amenizar

Que seu pranto
Não seja tão frequente
Tanta gente
Vivendo ao Deus dará

Que outra noite
Torturante qual
Permaneça-lhe
Somente na lembrança

Que Sob o manto
Do luar sereno
Prenuncie a próxima
Seja mais amena

Desempenha
Seu papel no abandono
Feito cão sem dono
Segue a vagar

8- Apasiguar

Tal pranto ninguém vem
Espera do Alto
Que lhe venham Bençãos

E sua crença
Reacende a chama
Que pra sua saga
Haja clemencia.

9- A outra parte

Viver é arte
E na arte do viver
Aprender faz parte
Aprendo a cada dia
Que fiz mau feito
A minha parte

Aprendo que não devia
Querer ser o que não sou
Que meu jeito i n s a n d e c i d o
Que na arte do amor
Não fiz direito a lição
Fiz o meu auto descarte

Que por ser inconsequente
Me envolvi facilmente
Que sempre que investi
Somente eu me envolvi
Faltou-me habilidade
De 'envolver a outra parte.

10- Que importa?

Que importa a grita de um povo
Que importa miserê n'alguma mesa
Que importa uns durmam ao relento
Que importa uns sucumbam de tristeza
Que importa nos campos não há flores
Que importa pra outros luzes tão acesas.

11- Sem nexo?

"Amanhece amanhece amanhece amanhece o dia
Um leve toque de poesia..."
E eu acordei e de pronto pensei
Tudo seria bem melhor
Se as pessoas se importassem mais
Com o mundo ao seu redor
Quanta gente a essa hora
Está desamparada
O frio cortando no centro
Velhos, mulheres, crianças
Dormem ao relento..

Sem nexo? Não m'importo
Espero que haja quem se importe
Pois se cada um fizer um pouco
O mundo aos poucos mudará
Pra - melhor - gradativamente.

12- MARIPOSAS, BACURAUS E COTOVIAS

O silvar do vento
Que parece canto
Sintetiza tanto encanto
Que é difícil descrever

Me faz lembrar do tempo
Das noites enluaradas
À beira daquela estrada
Logo após o entardecer

Bacuraus e cotovias
Iniciam revoadas
Enunciam trovoadas
Clarões dos raios no céu

Borboletas formam véus
Ao redor das lamparinas
Festejam talvez a sina
De saírem dos casulos
Pois lá não existem muros
Q'as privem fazem seus céus

Mariposas também bailam
Voam imponentemente
Pros olhos lindo presente
Que'a Natureza oferece

Faz-nos esquecer o  s t r e s s e
Do agito da cidade
Donde em qualquer idade
Não há quem ouse dizer
Que n'alguma vez na vida
Não foi alvo de maldade.

13- UM GESTO SIMPLES

Um gesto simples
Uma palavra meiga
Um sorriso afável
Um abraço forte
Um silêncio para ouvir
Um saber sentir
Um afago n'alma
Um poder servir

Gritar prá que
Se ninguém me ouve
Chorar também
Não faz nenhum sentido
Nem mesmo o vento
Entende o meu gemido
Melhor sorrir
Que faz mais sentido

Mesmo que digam
Que estou palhaço
Me importo sim
Por alegrar o mundo
Fazer sorrir
Alguém em seu cansaço
Me alegra a alma
De um jeito profundo

Qual passarinho
Que contente canta
Mesmo sozinho
Na árvore, na floresta
Fazer sorrir
Quem esteja triste
Meu coração
Se sentirá em festa.

14- ARRIBAÇÃS E MACAMBIRAS

"Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá"
Cantava; lá não mais ví
O latifúnidio arrancou
E sabiá não há mais
O agrotóxico dezimou

Quão triste ver lá nas brenhas
Onde a infãncia passei
Que caatingas não há mais
A ganância as destruiu
Não ví um só pau-pereiro
Daquele torrão sumiu

Arribaçãs que se via
Aos bandos esvoçando
Só se ver se for em sonho
Ou então devaneando
Preás e outros da fauna
Que haviam naqueles anos

Juazeiros, macambiras
Algaves que haviam tantos
Baraúnas, mulungus
Quichabeiras nos barrancos
Não resistiram e sumiram
Causando-nos desencanto.

15- Natureza: cenário deslumbrante

Que cenário deslumbrante
À beira d'uma cascata
De fundo frondosa mata
E um par de borboletas
Voando em pirueta
De inebriar a mente

E o canto dos passarinhos
N'um galho seco o seu ninho
Eles como a vigiar
Sapos e rãs coaxando
Como que nos convidando
N'água também mergulhar

Vendo tamanha beleza
Presente da Natureza
Que dar sem nada cobrar
Me 'indago:
Como é que o homem
Para obter o que consome
Se atreve a tal devastar.

16 - Um tour imaginário

Um navegar sem leme

Um lançar-se em alto mar

Um querer fugi de tudo

Um ir a perambular

Um n'um t o o r imaginário

Um caminhar sem cessar

Um sobrevoar as nuvens

Um sentir-se a flutuar

Um quase sem esperança

Um sem forças pra remar

Um em meio a tempestades

N'um corcel a galopar

Um em plena primavera

Não vê flores pelo chão

Um n'um coração vazio

Um em plena solidão

Um sem ter destino certo

Um seguir sem direção.

17- TEMPO

Eu Já dei tempo ao tempo
Mas o tempo não deu tempo
De entender por que o tempo
Me fez perder tanto tempo
Deixando o tempo passar

E nesse tempo de espera
Não entendi por que o' tempo
Não permitiu que o tempo
Prolongasse mais um tempo
Assim teria mais tempo
Tal qual no tempo voltar

Mas como o tempo não volta
Vou no tempo que me resta
Traçar no tempo outra rota
Pois nesse tempo não fiz
Um tempo pra ser feliz
Vou n'outro tempo tentar.

18- A outra parte

Viver é arte
E na arte do viver
Aprender faz parte
Aprendo a cada dia
Que fiz mau feito
A minha parte

Aprendo que não devia
Querer ser o que não sou
Que meu jeito i n s a n d e c i d o
Que na arte do amor
Não fiz direito a lição
Fiz o meu auto descarte

Que por ser inconsequente
Me envolvi facilmente
Que sempre que investi
Somente eu me envolvi
Faltou-me habilidade
De 'envolver a outra parte.

19- Bobagem sem nexo

"Muito prazer/ meu nome e otário..."
Êxtase para mim cada vez mais raro
Meu mundo é tão deserto
Meu amanha incerto

Pensei ser puro sangue
Sou mesmo pangaré
Caso você quiser
Fugir da melancolia
Afaste-se de mim
Esperance um novo dia

Adendo:

Minha poesia
Não tem pé não tem cabeça
Sem endereço
Sem começo meio ou fim
Palavras soltas
Meus lamentos meus tropeços

Rascunho tosco
D'onde vai parte de mim.

20- Entorpecida Mente

Minha entorpecida mente

Mente

Sente

Os efeitos

Dos meus feitos

Inconsequentes

Deseja

Planeja

Desaba

Impossibilitadamente.

21- À MARGEM

É triste neste País

Andar olhando de lado

Vê tanta gente sentado

Á margem sobrevivendo

Migalhas vão recolhendo

Dos lixões a céu aberto

Há ratazanas por perto

Dividindo as 'g u l o s e m a s'

É triste vê estas cenas

E não poder fazer nada

Estão de cara amarrada

É fácil saber porque

Por não terem o que comer

Deve roncar-lhes os estômagos

Percorrer caminhos longos

Qualquer resto é m e r e n d á v e l

Perverso meio sociável

Vejo tal bem distorcido

Ao menos dessem-lhes abrigo

O minimo recomendável.

22- Agonia

Vento que embala árvores

Quando passas assovia

Peço-te leva-me contigo

Tira-me dessa agonia

Deixa-me daqui bem distante

Quando amanhecer o dia

Quero sentir novamente

Envolto n'alguma magia

Quem sabe possa acordar

N'um mundo de fantasia

Cansado de hipocrisia

Queria adormecer

E acordar no outro dia

N'um lugar bem diferente

Onde o SER valesse mais

Do que o TER qual ocorre

Em cada canto que chego

Percebo que a ganância

Alastra-se qual veio d'água

Quando desce morro abaixo

Aumenta e vai arrastando

O que encontra pela frente

Talvez seja utopia

Imaginar ser possível

Que isso venha a mudar

Porém  pra qualquer destino

Jamais ninguém chegaria

Sem da o primeiro passo

Mas para que isso aconteça

Não se deve arrefecer

Nem reclamar do cansaço.

23- Pra Não Dizer Que Não Falei do Belo

É bom de vê o amanhecer nublado

Vê no cerrado esperança surgir

É bom de vê rebano enfileirado

Tangendo o gado um homem a sorri

É bom de vê gente apressada

Pelas calçadas ao trabalho ir

É bom de vê semblantes satisfeitos

Tendo o direito de lutar assim

É bom de vê um pássaro voando

O céu cortando o seu canto ouvi

É bom de vê as nuvens se formando

Enunciando que a chuva está pra vir.

24- NUANCES

Gente feito formiga

Fugindo da ignorância

Quando iremos perceber

Que muitos a perecer

O fator mais crucial

Não raro é a ganância

Buscam-se incansavelmente

Statos, bens, posições

Não se apercebendo

Que nada daqui se leva

E assim começam guerras

Muitas vidas são ceifadas

Não adiantou de nada

Correr alucinadamente

Se da Terra só se leva

O fruto do que se plantou

Plantem-se pois o amor

Em todas suas nuances

Mesmo que alguém se canse

Por certo na outra vida

Encontrará acolhida

O encontra guarida

Seja aqui Ou bem distante.

25- O Pato

Enquanto você ri

Das piruetas do pato

Na calada da noite

Sorrateiramente fatos

Acontecem sutilmente

Fazem a festa os gatos.

Pareço gato

Sou pato

Oh bicho desengonçado

Gato escolhe seu prato

Já pro pato tudo serve

Qualquer migalha é 'banquete

Só não acata maltrato.

26 Qualquer cantinho
Qualquer cantinho serve: Copacabana, uma cabana, uma choupana ou até mesmo cortando cana; desde que perdure a esperança de que ainda haja possibilidades...

Lasqueira mesmo, é quando temos a impressão de que deixamos no passado, as possibilidades futuras...

Pois...
Cortar a cana
Extrair o caldo
À mão um pão doce
Sabiá cantando
Do meio da mata
Ouvindo sinfonias
Rebanho de cotovias
Recordo aqueles dias
Revivo momentos
Que nem mesmo o tempo
Mesmo implacável
Afastou do peito
O sabor do jeito
Que senti teu peito
Quente, ofegante
Colado em meu peito
Coração pulsando
Eu fazendo planos
Salvo houvesse engano
Sei perduraria
Até hoje em dia

Lá tava morando

27 Fórmula mágica

"Hoje é sábado". E daí? Amanhã, domingo. Depois segunda, terça, quarta... e o tempo vai passando estreitando o tempo; só isso...

... e eu à espreita
mirando pro relógio
pensando se houvesse
um jeito de pará -lo
ou mesmo atrasá -lo
uns 20/ 30 anos
assim faria planos
ou reinventaria
alguma fórmula magica
capaz de abduzir-me
para um lugar deserto
que tivesse por perto
somente uma pessoa
pra mode enfeitiçar-me
fazer-me ri atoa.

28 E no balanço do tempo

E no balanço do tempo
Qual as ondas no mar
Água vai água vem
Sempre pra la e pra cá
Até as pedras se encontram
Menos eu re-encontrar
Aquela paz que sentia
Quando na 'areia do mar
Desenhava fantasias
Sempre a esperançar
Vejo que era utopia
Sei não vou mais alcançar
Gente sorrindo, cantando
Sua alegria esbanjando
Tal qual se vê na floresta
Harmonia qual orquestra
Quando a passarada em festa
Quiçá celebrando a dádiva
Do Criador recebida
Dando-lhes como guarida
A Natureza desfrutar.

Reflete no mar

Procurar não deves
Suprime este anseio
O céu se azul
No ocaso é vermelho
Quando a tarde cai
Reflete no mar
Qual fosse um espelho.

Cacos de ossos

Te sentes belo
Denigres o feio?
Sugiro penses
Nas horas de ócio
Tu e ele
Se tiverem sorte
Serão no final
Cacos de ossos.

29 SAI DESSA, BICHO

"Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando foi justamente n'um sonho q'ele me falou..."

'Sai dessa bicho
Teu tempo ja passou
Nesta Nau
Não há mais espaço 
Para sonhador.
Tenta te adequar
Aos ditames 
Do monstro sistem
Ou terminaras
N'uma de horror.
Lembra-te que o Homem
Tentou alertar
Um dos Seus amigos
Para O entregar
Por 30 moedas
O sistem o subornou
Dista tanto tempo
Da Sua Mensagem
Hoje teorizam
Visão mercenária
Mas a pratica, bicho
Sabes muito bem
Quase só o fazem
Os que menos têm.
É assim amigo
Que a banda toca
E o miserê
Se vê alastrando-se
Milhares, milhões
Vivendo em malocas
Só os mais espertos
Se dão muito bem
Não apercebendo-se
Que é temporal
Tanta mordomia
Pois do Outro lado
O Homem Falou
O que conta ponto
E a Lei do Amor.
Vivida de fato
Não teorizada
Assim lado a lado
Podem se encontrar
Quem teve castelos
Ou viveu ao léu
Como teto Nuvens
E leito as calcadas.

30 Minha lápide/ Cachaça/ Sim

Busco e não desesperanço
Um lugar
Um cantinho
Que mesmo sozinho
À beira da praia
Possa morar
Cansei de ficar
Tentando agradar
Não ser bem sucedido
Acontece comigo
Não sei o por que
De tanto querer
Pareci insano
E o meu desengano
Pouco a pouco aumentando
O tempo passando
Nele eu me perdendo
Hoje me arrependo
De não ter vivido
Fiquei escondido
Fiz do meu mundinho
Uma casca de noz
E em meio a milhares
Me sentindo a sos
Eu e eu mesmo
Um lado outro lado
Cometi o pecado
Só fazer o bem
E espaço não tem
Viver desse jeito
Pois mundo perfeito
Talvez possa encontrar
Quem sabe além mar
N'uma praia deserta

cabeça tiritando; caso ou quando eu dormir e não mais acordar, queiram afixar, este em minha lápide.

Convencido,sim eu sou
Que sou mesmo 2 em 1
O real e o virtual
O primeiro o esquisito
O outro dizem legal
Sou tal qual um livro aberto
Descartam-me no final

Cachaça

Imedível linha tênue
Qual cortina de fumaça
Embaça meu corpo treme
Sera alucinação?
Ou efeito da cachaça?
Bebi - não tenho costume
Pensei esquecesse o tempo
No qual embalava sonhos
Dormi - tive pesadelos
De mim só faziam graça.

Sim

Eu quero revanche
Ao menos uma outra chance
Distraído ibernei
Tarde demais acordei
Não arisco fazer planos

Pois já avisto o outono.

31 ilusão id-ótica/ Paraíso à coronéis/ Tormento
ilusão id-ótica

Uma estrela de brilho reluzente
Formou uma sombra à minha volta
Perecia ser ela vir chegando
Ledo engano! 
Só ilusão id-ótica.

Paraíso à coronéis

Oh 'Ilha' - já disse minha
Sem nunca minha ter sido
Inescrupulosamente
Não germinasse as sementes
Mas fostes - e ainda és
Paraíso à coronéis

Não de patente - somente
Por serem teus mandatários
Da plebe muitos otários
Aplaudem os seus algozes
Quem ousa v e r d a d e a r
Antes que galo cantar
Tem caladas suas vozes
Por suas asas podadas
Disfarçadamente mente
E os mercadores eclodem
Se vis poucos os percebem
São rotulados de e r e g e s
Quem se atreva explicitar
Que das flores , do pomar
Exala putrefação
Pacata população
Sofre acanhadamente
Não reclama, é conivente
Só Deus salva esta Cidade
Dos mercenários vorazes
De tanta esculhambação.

Tormento

Não mais me basta
As sombras que me seguem
Oh! Me carreguem

Antes que louco
Tornem-me
Tal pensamento

Transportem-me no tempo
Este tormento
Sucumbe-me lentamente!

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